Artigo de Demétrius Faustino: JOGOS INESQUECÍVEIS

JOGOS INESQUECÍVEIS

Demétrius Faustino

Há quem repute o futebol como uma das melhores figuras de linguagem, já que ele possui técnica, tática, arte, estratégia, luta, choro, derrota, vitória e principalmente, o maior ingrediente da vida, que é a emoção.

Apesar da memória do torcedor só ir até o próximo jogo, quem realmente acompanha e gosta desse esporte, ou melhor, dessa “figura de linguagem”, tem guardado em algum cantinho do coração um jogo inesquecível, inolvidável. E não é qualquer jogo, mas aquele que traz algum significado para retratar tamanho sentimento.

Memorizando a história, lembramos de dois jogos que marcaram época: Botafogo da Paraíba e Internacional do Rio Grande do Sul, pelo Campeonato Brasileiro da Série A em 1980, e Flamengo x Botafogo em 1981 pelo Campeonato Carioca.
No confronto entre Botafogo da Paraíba e Internacional do Rio Grande do Sul, o Belo cujo meio campo era composto por Nicássio, Magno e Zé Eduardo, e que nesse período foi apelidado pela revista Placar, como o “Matador de Tricampeões”, venceu por 2 a 1, jogo esse realizado no estádio Almeidão, que ficou totalmente lotado. Levado ao Campo pelo amigo Erickson Alexandre, foi a partir desse espetáculo de futebol que passamos a ser um Belo convicto.
O outro confronto ocorreu na semifinal da Taça Guanabara em 1981, entre Flamengo x Botafogo. O rubro-negro aplicou uma sonora goleada de 6 a 0 sobre o alvinegro, onde o ainda iniciante Paulo César Carpegiani vivia seu primeiro ano como técnico.

No primeiro tempo o Flamengo conseguiu abrir o escore em 4 a 0, onde se comenta que na hora do intervalo talvez tenha sido um dos dias que o Zico ficou mais empolgado. Todos sabiam da história do 6 a 0, e logicamente, quando o time voltou do intervalo, a torcida começou a pedir seis.
Não restava dúvida que o Flamengo possuía um time muito superior no Carioca de 1981, mas foi o placar de 4 a 0 construído no tempo inicial que tornou lúcida a possibilidade de devolver a goleada idêntica e sofrida para o time da estrela solitária em 1972, e que durante quase 10 anos, o resultado era motivo de gozação dos adversários.
Em nossa lembrança, logo aos sete minutos do jogo, Nunes abriu o placar ao escorar cruzamento rasteiro na pequena área; ato contínuo, foi a vez do galinho, aos 27; Lico e Adílio, ainda no primeiro tempo, deram o 4 a 0 para o Flamengo antes da saída para o vestiário.

Na etapa final, e com gols de Zico, aos 30, e de Andrade, aos 42, o Rubro-Negro saiu com o placar tão almejado. Ouvíamos essa partida inesquecível pelo rádio, e ao terminar a transmissão, o tio Zé Faustino, botafoguense doente, comentou: “Foi sorte por isso que ele ganhou”. Já era supersticioso.
João Pessoa, dezembro de 2019.