Escolha do técnico foi o motivo do fracasso da Azzurra

 

Gian Oddi

Gian Oddi – ESPN

Não chega a ser uma grande surpresa: depois de 60 anos, a seleção italiana, quatro vezes campeã mundial e dona de uma das quatro camisas mais pesadas do futebol no planeta, não jogará uma Copa do Mundo. O baque ocorre após o empate por 0 a 0 com a limitada seleção sueca, no estádio San Siro, nesta segunda-feira.

Muitos motivos podem justificar o fiasco: uma geração distante das mais talentosas do futebol italiano; critérios da Uefa que põem Espanha e Itália para se digladiar nas eliminatórias enquanto outros grupos têm, por exemplo, Islândia e Croácia ou Polônia e Dinamarca como maiores forças; o azar no jogo de ida contra os suecos; a pontaria no jogo de volta; o alinhamento dos planetas, o mapa astral dos atletas ou as fases da lua.

Nada disso, contudo, tem tanto peso no fracasso como a escolha do treinador — curiosamente, talvez a única área do futebol profissional em que a Itália ainda se sobressai em relação aos outros países com relevância na modalidade.

Em uma terra que conta com técnicos da qualidade de Antonio Conte, Carlo Ancelotti, Maurizio Sarri, Luciano Spalletti e Massimiliano Allegri, para ficar apenas nos mais capazes treinadores italianos do momento, a escolha de Gian Piero Ventura, veterano que passou toda a carreira dirigindo times do segundo escalão do país, foi um choque para muita gente em junho do ano passado.

Ainda que atualmente as seleções, com raras exceções (como o Brasil), não contem com os melhores técnicos de seus países por questões financeiras, a escolha de Ventura surpreendeu também pela pouca expressão de seu nome.

Roberto Mancini, Fabio Capello ou até mesmo Claudio Ranieri, técnicos hoje inferiores aos cinco citados acima, certamente causariam menos estranhamento — o que, nestes casos, talvez não significasse um desempenho tão superior.

O fato é que Ventura contou com um grupo muito parecido com o que Antonio Conte teve à disposição na ótima participação da última Eurocopa. Lembremos: na primeira fase, a Itália liderou o grupo considerado mais forte do torneio, com Bélgica, Suécia e Irlanda; nas oitavas, despachou a forte Espanha sem dificuldades; e, cheia de desfalques, caiu nas apenas nos pênaltis nas quartas-de-final, contra a campeã do mundo Alemanha.

Para os confrontos contra a Suécia pela repescagem, Ventura chamou nada menos que 15 dos jogadores que Conte levou à Euro. Ainda teve Verratti, que estava machucado no torneio continental, e contava com os ótimos momentos de atletas como Jorginho, Insigne, El Shaarawy e Immobile, dos quais ele não soube aproveitar.

Vivendo a esquizofrenia entre tentar impor um modelo do jogo ousado e autoral (o 4-2-4) e acatar o clamor dos medalhões pela volta do sistema utilizado por Antonio Conte na Euro, Ventura escreveu seu nome, junto com os de seus empregadores, em um dos capítulos mais tristes e vexatórios do futebol italiano.

Um baque pesado para o calcio justamente no momento em que o Campeonato Italiano renasce com novas ideias de jogo, com a adoção (tardia) de medidas profissionalizantes que serão adotadas na próxima temporada e, também, com novos investimentos estrangeiros.

Para ir à Copa, porém, a Itália não precisava de novidades. Só precisava ter escolhido melhor na única área em que sempre teve excelência.

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