ESPN- Em meio aos escândalos que atingem o handebol brasileiro, denunciado desde novembro em mais de 20 reportagens do Dossiê Handebol, produzida pelo Jogo Limpo ESPN, agora a Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) decidiu cancelar a participação das seleções brasileiras juvenis de areia no Mundial alegando ‘falta de verba”.
Segundo relatos que chegaram à reportagem do ESPN.com.br, a CBHb disse que “não tem condições” de bancar a viagem da equipe para o Campeonato Mundial, nas Ilhas Maurício, já que um patrocinador teria desistido de custear as verbas que seriam investidas na competição. Mas a Confederação só fez o aviso às vésperas da competição, que começa domingo, apesar de os atletas já estarem em treinamentos há mais de duas semanas.
O Brasil é quatro vezes campeão mundial da modalidade nas categorias masculino e feminino, mas com a atitude repentina da CBHb não pode mais sequer brigar pela classificação aos Jogos Olímpicos da Juventude em 2018.
“Era um sonho que eu tinha e esse sonho foi cancelado. Em muitos finais de semana minha mãe pedia para ficar com ela e eu ia treinar, porque eu tinha um objetivo”, disse um dos laterais da equipe olímpica brasileira, que terá seu nome preservado para evitar retaliações. “Estamos muito tristes com essa notícia, porque a gente ficou 15 dias se preparando para esse Mundial e a gente tava muito confiante. O que resta é continuar, mas a gente acaba perdendo o ânimo”, acrescentou um dos goleiros – ambos foram campeões pan-americanos em 2017.
A Confederação Brasileira de Handebol foi protagonista de reportagens indicando desvios, fraude e corrupção, feitas pela equipe do Jogo Limpo.
O Dossiê Handebol publicou documentos indicando fraudes de R$ 6 milhões em licitaçõesassinadas pelo presidente da Confederação Brasileira de Handebol (CBHb) e sua esposa, além de outras denúncias, como auditorias de patrocínios estatais que apontavam R$ 800 mil sem notas fiscais, benesses a cartolas, empresa que geria projetos suspeita, indícios de eleição falsificada, gastos olímpicos excessivos, irregularidades em bolsas-atletas, uso indevido de cartões dos jogadores, mais licitações com indícios de fraude, empresa parceira“fantasma”, churrascadas suspeitas, táxis pagos até no Irã, entre outras.
A série denunciou, no mês passado, a retirada de R$ 1,7 milhão do patrocínio do Banco do Brasil – portanto, dinheiro público para ser investido na modalidade – para agraciar coronéis da IHF (Federação Internacional de Handebol) com diárias em dólares durante a Olimpíada 2016. Para efeito de comparação, a participação das seleções brasileiras de areia no Mundial custariam cerca de R$ 300 mil (menos de 18% do saque feito na conta da CBHb no BB citado acima).
As reportagens motivaram o Ministério Público Federal a pedir pela abertura de inquérito policial contra a CBHb, em investigação sigilosa que já corre há sete meses junto à Polícia Federal. Além disso, por conta das denúncias da ESPN, o presidente Manoel Luiz Oliveira foi impugnado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) em maio, inclusive com respaldo da Justiça comum do Sergipe. Mesmo assim, o cartola recusa-se a deixar o cargo e continua dando as cartas na entidade.