NO DIA EM QUE A ARQUIBANCADA CAIU!
Assistir futebol na arquibancada de um estádio de futebol nos traz enormes emoções, e quando assistimos em um campo pequeno, melhor ainda, pois há uma interação bem maior resultando em uma convivência entre torcedores, profissionais da imprensa, jogadores reservas, policiais, enfim há uma proximidade física e social.
Na época em que não havia o estádio Almeidão, reinava aqui na capital o estádio Leonardo da Silveira, carinhosamente chamado de Graça, o campino de Cruz das Armas que já passou por inúmeras reformas.
Tive o prazer de assistir grandes jogos ali, de conhecer e fazer amigos naquele campinho onde conhecíamos o vendedor de picolé, o vendedor de pasteis, de amendoim e outras coisas gostosas que só encontramos nos campos de futebol.
Naquela época, a Graça possuía uma arquibancada central e lateral ao campo, e duas arquibancadas por trás das traves dos goleiros, denominadas de gerais. Na lateral que não possuía arquibancada, estavam às cabines da nossa imprensa esportiva, e os torcedores de menor poder aquisitivo que assistiam em pé.
Tudo era próximo, tudo possuía uma dimensão maior, mais real, mais verdadeiro. Escutávamos as instruções do técnico, o barulho do chute na bola, as advertências dos nossos árbitros aos jogadores, enfim era muito mais emocionante.
E dentre os vários fatos que marcaram a minha pessoa naquele campo, destaco a existência de uma arquibancada clandestina, de madeira, que havia por trás de uma das traves, justamente pendurada e improvisada em uma árvore.
É, caro leitor, o torcedor inventa tudo, mas não deixa de prestigiar o seu clube de coração. Essa arquibancada de madeira existia no quintal de uma residência localizada ao lado do campo, e o valor pago para frequentá-la era bem abaixo do preço da arquibancada oficial.
Era como se fosse um poleiro de circo, com a diferença de ser bem alto e pendurado em uma árvore. Os torcedores assistiam aos jogos pendurados, com camisas e bandeiras. Eu ficava da arquibancada oficial imaginando se era seguro assistir jogo naquele local. Será que ali obedeciam à capacidade ideal de pessoas? Era devidamente segura aquela estrutura?
Bem, em todos os jogos importantes aquela arquibancada\poleiro estava lotada e com bastante animação. Era um show à parte, um espetáculo a mais, naquelas tardes de domingo de saudosa memória.
Era o ano de 1974, o forte time do Campinense Clube estava bem próximo de ser tetracampeão; aos times do Treze, e do Botafogo só restava tentar a conquista do último turno daquele campeonato para depois enfrentar a raposa.
Treze e Botafogo jogavam naquele domingo, e o saudoso campinho da Graça estava lotado, sendo a torcida do belo bem maior do que a do galo; já o time da Serra da Borborema era mais técnico e melhor entrosado.
O ataque trezeano possuía Adelino e Fernando, dois grandes atacantes que marcaram aquele time. Eram artilheiros natos. Fernando era exímio cabeceador.
A arquibancada\poleiro estava com a sua capacidade máxima extrapolada, não havia espaço nem para soltar um peido, e se alguém descesse para uma necessidade fisiológica, quando voltasse perderia o lugar. E ainda ouviria a seguinte piada: Saiu para mijar perdeu o lugar.
Pois bem, lembro que o Treze venceu aquele jogo, pelo placar de 2 x 1, foi campeão do turno e em seguida decidiu com o Campinense, onde não obteve êxito e o time de Zé Pinheiro conseguiu o tetracampeonato, 1971, 1972, 1973 e 1974.
Voltando ao jogo da Graça, na hora do único gol do Belo, a torcida vibrou com muita emoção em todas as áreas do campo, principalmente na arquibancada principal. Mas de repente, escutou-se um grande estalo de madeira partindo-se ao meio, gritos desesperados de socorro e logo em seguida, o barulho abafado de corpos ao solo.
Fez-se um silêncio enorme… O juiz paralisou o jogo… Os locutores passaram a falar e a gesticularem mais apressados… Foi quando olhei para a arquibancada\poleiro de madeira e constatei que ela havia despencado com os torcedores e ainda tinha uns poucos pendurados nos galhos, só Deus sabe como.
A nossa alegria do gol havia sido transformada em tristeza. Porém, segundo consta ninguém saiu gravemente ferido. E no outro clássico, tava lá novamente o poleiro lotado, todo “reformado e mais seguro”. Eu é que nunca me atrevi!