Artigo de Di Lorenzo Serpa destaca Chico Matemático

 

“Cujo nome de guerra,

afrontava a ciência dos números” (Marcos Aurélio).

O ano era o de 1969 do saudoso século passado. O homem estava conquistando o espaço com sucessivos projetos e viagens em espaçonaves russas e americanas. O francês Jean Paul Sarte explicava a sua doutrina do existencialismo ao mundo. Elvis Presley difundia o rock and roll. Os Beatles encantavam o planeta. No Brasil o regime militar endurecia suas ações contra a oposição.

Roberto e Erasmo comandavam a jovem guarda nas felizes tardes de domingo. Gil, Caetano, Chico, Edu Lobo, Elis Regina, Rita Lee, Jair Rodrigues surgiam com uma proposta musical genuinamente brasileira. O paraibano Geraldo Vandré incendiava o país, literalmente, de norte a sul.

No futebol a nossa seleção se preparava para a conquista definitiva da taça Julius Rimet, com o inédito título de tri-campeão do mundo. O saudoso João Saldanha perderia a condição de técnico para o grande Mário Zagalo. Este último conseguiu um sistema de jogo onde Pelé, Tostão,Jairzinho, Gérson, Rivelino, Piaza, Clodoaldo, Carlos Alberto Torres e outras feras faziam a bola ser não um instrumento de trabalho, mas sim um adorno nos pés, peito, mãos e cabeça de semi-deuses do futebol arte.

E foi nesse ano que o jovem talento da Portuguesa de Cruz das Armas, de nome Francisco de Assis Gama, com passagem também pelo saudoso Esporte Club União chegou ao nosso querido Botafogo Futebol Clube para jogar com estrelas como Lúcio Mauro, Lando, Odon, Valdeci Santana, Ferreira, Simplício, Fernando e tantos outros.

A sua maneira simples e objetiva de jogar logo chamou a atenção da imprensa e dos torcedores. Seus lançamentos longos e precisos, sua visão de jogo e de campo, suas arrancadas e chutes indefensáveis aliados a uma certeira cabeceada, transformaram “Chico Matemático” no maior artilheiro da história do Botafogo, atingindo a marca de 107 gols. Também foi ele quem primeiro marcou gol no estádio Almeidão com a camisa do belo.

Ele fez parte do elenco que conseguiu o tri-campeonato paraibano nos anos de 68-69 e 70. Encerrando e quebrando a hegemonia do futebol paraibano que pertencia ao temido Campinense Clube.

Também participou do famoso Torneio Integração, ocorrido em Goiás,no início da década de 70, quando o Botafogo conseguiu ser destaque ao lado de agremiações como a Ponte Preta de Campinas-SP. Depois desse torneio, os times de Recife passaram a cobiçar o passe do nosso artilheiro. Também foi sondado por empresários para se transferir para Portugal.

A sua transferência só não ocorreu para esses centros maiores em virtude do mesmo ter iniciado o curso de engenharia civil, que por sinal levou e motivou o saudoso cronista Ivan Tomaz a batizá-lo de “Chico Matemático”, em homenagem ao curso e aos passes milimétricos que saiam de seus pés.

Chico Matemático esteve em campo, na época do Estádio Olímpico do Boi Só, onde hoje funciona uma vila olímpica, quando o maior jogador do mundo marcou o seu 999º gol. Naquela noite, Pelé terminou a partida jogando de goleiro para não marcar o seu milésimo gol, depois de uma simulação de contusão por parte do goleiro do Santos.

O artilheiro Chico Matemático encerrou a sua carreira no ano de 1975, passando a exercer as suas funções de Engenheiro Civil. Seu carisma, forma simples de ser e portar, tratando todos com atenção e urbanidade, o levou ao cargo de vereador da cidade de João Pessoa com expressiva votação.

Para nós torcedores, cronistas e desportistas, ficou a certeza que Francisco de Assis Gama, o popular “Chico Matemático” escreveu o seu nome, com tintas douradas e perpétuas na brilhante história do futebol paraibano.

* Extraído do livro “Causos & Lendas do Nosso Futebol”.

 

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *