“Um Pouco de Mario Filho e o Maracanã”. Novo artigo de DEMÉTRIUS FAUSTINO

UM POUCO DE MARIO FILHO E O MARACANÃ

Demétrius Faustino

Em tempos de pandemia, cuja tragédia humanitária está se impondo no Brasil, e onde a exemplos de muitos, o próprio presidente Bolsonaro finge que a pandemia não existe e nem de longe pensa em estancar a ladeira da morte, não é admissível e ainda por cima mexer com temas que em nada vão contribuir para a melhora da situação, como é o caso de legislar para mudar o nome do estádio Mario Filho, o Maracanã. É como se não existissem problemas mais urgentes para serem debatidos. E em razão da exaustão de falar das angústias em que vivemos, resolvemos escrever sobre esse assunto.

Trata-se de um Projeto de Lei já aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro, e que para virar lei falta somente a sanção do governador daquele estado. São atitudes inadequadas em tempos de pandemia, com tantas pessoas sofrendo pela perda de empregos, pela morte de entes queridos, quando não por terem, elas mesmas, contraído a doença.

Isto é para quem não tem o que fazer.

E mesmo que fosse em outros tempos, com o devido respeito a Pelé, que se diga de passagem, já tem o seu nome em estádio de futebol, no caso em Maceió, o jornalista Mario Filho não merece essa ingratidão. Ele não só escreveu parte da história do futebol brasileiro, como também ajudou a construí-la, e, portanto, a homenagem feita não merece ser extinta, pois ele foi o idealizador do empreendimento para construção desse estádio.

Basta dizer que ainda nos anos de 1920, Mario Filho começou a carreira como repórter esportivo, e anos depois criou o primeiro periódico no Brasil dedicado apenas ao esporte, colaborando assim para a popularização da cobertura jornalística do futebol, substituindo os termos refinados da época por expressões mais populares.

Como jornalista esportivo, passou por vários jornais e redações, se firmando na seção de esportes de O Globo em 1930, onde ali obteve muitos contatos e relacionamentos com pessoas do meio esportivo.

Como amante do futebol, Mario Filho frequentava os bares preferidos pelos torcedores de cada time carioca: o Flamengo no Café Rio Branco, no Lamas e no Largo do Machado; o Vasco no bar Capela, da Lapa e na cervejaria Vitória, da Praça Onze etc.

  Outro momento decisivo na vida de Mario Filho foi quando comprou e comandou o Jornal dos Sports, cujo periódico construiu uma hegemonia de pelo menos cinco décadas.

Sem olvidar que Mario Filho atuou também no campo da produção cultural, porquanto sua obra historicamente retorna a um contexto específico da história do Brasil, mais precisamente entre as décadas de 1930 e 1950, onde na década de 1930 há uma nova performance do mercado editorial, pois a cidade do Rio de Janeiro se torna um centro de afluência e propagação da literatura tida como nacional. A cidade aglutinava grande parte da intelectualidade do país, assim como os mais relevantes editores e as principais vozes da crítica literária. Era um período de tentar compreender e interpretar o Brasil, onde buscava-se encontrar a nossa própria identidade nacional.

Seu mundo das letras iniciou-se quando publicou os romances Bonecas e Senhorita. Mas é a partir da década de 40 que o jornalista passou a produzir mais, onde em 1943 relata as histórias do selecionado brasileiro na Copa Rio Branco no romance Copa Rio Branco 32. Em 1945 é a vez do lançamento de Histórias do Flamengo sobre causos do mais querido, e em 1947 publica a primeira edição de O negro no futebol brasileiro. Em 1949 publica o Romance do football.

Indubitavelmente podemos unir todas essas obras em uma coleção que visaria contar a história do futebol brasileiro a partir do olhar de Mario Filho. Sem esquecer de reunir ainda o Copa de 62, onde relata a conquista do bicampeonato mundial publicado em 1962; Viagem em torno de Pelé em 1963, ea segunda edição de O negro no futebol brasileiro em 1964.

É muito básico afirmar que homenagear o maior futebolista da história do mundo é justo, que aliás, é coisa que o Santos Futebol Clube deveria ter feito, e não o fez. Mas se formos pelo caminho adverso a pergunta que não quer calar é: é legítimo tirar do Maracanã o nome do idealizador da sua construção?

Não está em discussão a importância de Pelé para o futebol brasileiro e mundial, mas tão somente o fato de abrir mão do nome Mario Filho para o Maracanã, porquanto é tirar dele a sua relevância para o estádio e a crônica esportiva nacional.

João Pessoa, março de 2021.