A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) realizou, nesta sexta-feira (31), audiência pública para debater sobre os problemas causados pela Alergia à Proteína do Leite de Vaga (APLV), em crianças e recém-nascidos. Outros tipos de alergias alimentares, como a intolerância à lactose, também entraram na pauta. A discussão contou com a participação de parlamentares, nutricionistas infantis, gastropediatras, advogados e representantes da Secretaria de Saúde da Capital.
A propositura foi do vereador Humberto Pontes (Avante). Na tribuna, ele declarou que é muito importante que os pais, e a sociedade em geral, tomem conhecimento do diagnóstico, da prevenção, dos riscos, dos cuidados e das dietas recomendadas para pacientes que sofrem com a APLV e outras alergias alimentares. O parlamentar informou que foi procurado por algumas mães, para que seu gabinete pudesse promover a audiência pública. “O tema me chamou muita atenção, uma vez que tenho uma neta que apresenta intolerância à lactose. Por isso, achei conveniente fazer um grande debate nesse sentido”, contou.
Na ocasião, Humberto Pontes revelou que já tem dois projetos de lei protocolados na Câmara que tratam do assunto. Um deles obriga a incluir opções de alimentação adequada, nos cardápios da merenda escolar, para alunos que necessitam de atenção nutricional individualizada no Município. A outra propositura obriga hospitais, clínicas e unidades de saúde, públicas ou privadas, que dispensam medicamentos a informarem quanto à presença de lactose na composição do produto ofertado na Capital.
O vereador também lembrou Lei 13.726, de 17 de abril de 2019, que institui no calendário oficial do Município de João Pessoa a ‘Semana da Alimentação Consciente’. Além de Humberto, compuseram a mesa da audiência o vereador Marcos Henriques (PT), que secretariou os trabalhos; a representante do grupo de pais da APLV, Kayze Nobre; a secretária adjunta municipal de Saúde, Ana Giovana; e o servidor público Tiago Lemos, que também faz parte do grupo de pais da APLV.
A secretária adjunta da saúde, Ana Giovana, afirmou que a Prefeitura não poderia estar fora desse debate, nem deixar de tomar conhecimento de como anda o quadro atual dos problemas de alergias alimentares causados as crianças. Ela informou que a Gestão Municipal tem, atualmente, mais de 30 nutricionistas nas Unidades de Saúde da Família (USF), que atendem esses e outros casos parecidos. A gestora destacou ainda as campanhas e os programas promovidos pela Prefeitura sobre a importância do leite materno. “Não só para a qualidade de vida dos recém-nascidos, mas também para evitar alergias alimentares”, acrescentou, enaltecendo o trabalho intenso das nutricionistas na Maternidade Cândida Vargas, e a eficácia do programa Banco de Leite, que recebe doações de leite materno.
Alertas
Uma das responsáveis pela articulação da audiência foi Kayze Nóbrega, que tem um filho com problemas de alergia alimentar. “A partir de hoje, eventos como esse vão crescer”, comentou. Ela afirmou que houve uma mobilização muito grande para que os pais de crianças com APLV e outras alergias alimentares comparecessem à audiência pública, e agradeceu o apoio do vereador Humberto Pontes. Kayze cobrou uma atenção maior do poder público para a causa, com mais investimentos em qualificação profissional e na melhoria do atendimento nos hospitais.
O servidor Tiago Lemos e sua esposa, Lara Lemos, têm uma filha chamada Maria Vitória que sofre de alergia alimentar. Ele ocupou a tribuna e informou, entre outras coisas, que 5% da população de João Pessoa enfrenta problemas de APLV. “Isso representa quase 50 mil pessoas, em um universo de quase um milhão de habitantes na Capital”, apontou. Lemos alertou que a APLV é muito séria, e que uma medicação feita de forma incorreta pode levar à pessoa ao óbito.
A médica Ana Celi, residente em saúde da família, ressaltou que não há um exame efetivo que aponte que o paciente sofre de alguma alergia alimentar (APLV ou intolerância à lactose). “São necessários vários exames e o acompanhamento da criança na rede”, completou.
A gastropediatra Maria Izabella contou que o diagnóstico é individualizado, e que cada um tem sua história. “A nutrição ajuda muito nisso, pois o tratamento é multiprofissional. As crianças precisam passar por um nutricionista”, observou. A nutricionista Juliana Félix afirmou que a APLV pode ser evitada na faze da gestação, desde que a mãe seja orientada a consumir uma boa alimentação no início da gravidez. “Todas as mães que estão grávidas ou preparam-se para engravidar, devem fazer uma dieta super limpa, ou seja, uma dieta com alimentos saudáveis, moldando seu intestino, fortalecendo sua imunidade e fazendo a prevenção”, explicou.
A nutricionista Janaina Japiassu defendeu que a amamentação é a melhor maneira de garantir os nutrientes necessários aos recém-nascidos até os seis meses de idade. Segundo ela, após o período de amamentação exclusiva, o ideal é continuar com o aleitamento, mas introduzir alimentos complementares saudáveis. Com atuação em direito da saúde, a advogada Agnes Bezerra, que veio de Fortaleza para participar da audiência pública, informou que 8% das crianças de 0 a 2 anos, no país, apresentam algum tipo de alergia alimentar. Os dados foram apurados pela Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
APLV e Intolerância a Lactose (IL)
A APLV é a sigla da Alergia à Proteína do Leite de Vaca, uma reação do sistema de defesa do organismo às proteínas do leite. Quando a pessoa com APLV ingere alimentos que possuem as proteínas do leite, o seu sistema de defesa as reconhece como uma substância estranha e libera na corrente sanguínea anticorpos (IgE) ou células inflamatórias, acarretando reações gastrintestinais, de pele, respiratórias ou sistêmicas. Já a intolerância à lactose é decorrente da falta ou da diminuição da lactase, enzima que digere a lactose (açúcar do leite). Ela é mais comum em adultos e idosos.
Secom/CMJP