Coluna de Serpa Di Lorenzo: “O Belo e o Velho Mundo”

O Belo e o Velho Mundo!

O nosso querido futebol paraibano tem muito que contar: fatos bonitos, derrotas desastrosas, jogos heroicos, históricos e também folclóricos. Como a própria sociedade o futebol tem suas mutações, aperfeiçoamentos, retrocessos e decepções.

E o nosso Botafogo Futebol Clube, que está completando noventa anos de existência, vem ajudando a alimentar essa história, com as suas glórias e as suas derrotas, sendo as primeiras em maior número.

E foi justamente isso que ocorreu na década de oitenta do século passado, quando o Belo em uma decisão repentina e temerária aceitou realizar uma excursão ao continente europeu. Digo temerária, em virtude do clube quando convidado estar no meio do campeonato paraibano e, como foi divulgado posteriormente, os empresários que procuraram o Belo não agiram com as devidas transparência e clareza.

Com muito jeitinho brasileiro e com o forte aval da CBF, o então presidente da FPF liberou o clube para viajar ( um mês) e realizar os seus jogos no paraibano quando de seu retorno. Treze e Campinense protestaram muito, porém não conseguiram impedir a viagem. Muitos dólares seriam trazidos do velho continente. Era a Paraíba representando o país na Europa.

E foi no dia 02 de agosto de 1984, que a delegação embarcou do aeroporto da cidade do Recife, em busca dos dólares prometidos. O presidente do clube Geraldo Carvalho acompanhado de meia dúzia de diretores, chefiou a delegação, que tinha Erandir Montenegro, como técnico e os seguintes jogadores: Pavão e Pedrinho -, Walmir, Bitonho e Cleonaldo-, Zito, Julival e Jaldo-, Zé Alberto, Carioca e Carlos Roberto-, Carlinhos Mocotó, Edinho, Rocha, Jorge Luiz e Mariano-, Chinacão, como Massagista e o Dr. Roberto Correia Lima, Médico.

A nossa competente imprensa, foi representada por João Camurça (Rádio Tabajara), Roberto Machado (Rádio Arapuan) e Marcos de Luna Freire, que comentava os jogos. Nem tudo foram flores. Primeiro, venderam o time paraibano como se fosse o seu homônimo carioca, que era bastante conhecido lá fora. Segundo, os hotéis em que a delegação se hospedou não estavam no nível que constava nos contratos, ao contrário, eram de terceira categoria. Por último, era um jogo atrás do outro, sem o devido e necessário descanso.

Foram dez partidas disputadas em gramados europeus, o Belo venceu 04 jogos, empatou três e foi derrotado em três, tendo as arbitragens, o cansaço e as dificuldades estruturais contribuído nas derrotas. Sem contar que enfrentamos times como os conhecidos Estrela Vermelha, da Iugoslávia, o Panathinaikos, da Grécia e o Dínamo de Zagred.

E quando o Belo resolveu retornar, encerrando aquela odisséia nos campos europeus, o avião Boeing DC 10 da TAP que já sobrevoava o oceano acima de 33 mil pés de altura, começou a enfrentar turbulências. Eram muitas as vibrações na aeronave, aumentando paulatinamente e amedrontando a todos, principalmente os marinheiros de primeira viagem. Foi quando o piloto avisou que havia uma pane, mas não se preocupassem que a aeronave já estava voltando a Lisboa.

Essa pane na aeronave tomou uma repercussão enorme, chegando a se propagar que o avião que trazia o Belo havia caído no oceano. Foi um Deus nos acuda, principalmente no viaduto Damásio Franca, local que concentrava vários desportistas da capital. Logo a notícia, para felicidade de todos, foi retificada e no outro dia a delegação retornou para o Brasil, sendo recebida com festa na antiga churrascaria gauchinha.

Na volta o Botafogo recomeçou os seus jogos no campeonato paraibano, conquistou o segundo turno e sagrou-se campeão daquele ano. E para entregar-lhe as faixas de campeão, a diretoria surpreendeu a todos quando mandou buscar o Servett, campeão da Suíça. Realmente, o Belo tinha gostado dos dólares e dos times europeus.

Amanhã o centenário jornal A União circula trazendo uma revista comemorativa aos noventa anos de existência do Botafogo Futebol Clube.