A BOLA
A bola é um substantivo feminino, objeto redondo ou oval, geralmente feito de borracha, couro ou material semelhante, cheio de ar, com que se podem praticar vários esportes como o handebol, basquetebol, futsal e principalmente o futebol. Essa é a definição clássica do nosso dicionário. “A bola tem vida própria. Ela gosta de ser bem tratada” (Zizinho)… “A bola de futebol acompanha o craque, ela tem alma de cadela” (Nelson Rodrigues)… “A bola não enxerga, é o artilheiro que sabe antes dos outros aonde a bola vai chegar” (Tostão)… “A bola procura o artilheiro” (sabedoria popular).
Depois dessas precisas e conceituadas definições, volto ao meu passado e vejo no quintal da casa de minha mãe uma bola de couro de cor marrom, bastante surrada, em cima de um tijolo levando sol para secar o sebo de carneiro que tinha sido esfregado em seus gomos. Essas bolas eram compradas, não lembro a marca, em uma loja do centro da cidade, salvo engano de nome Inácio Vinagre. O sebo de carneiro, comprado na feira livre da Torre, servia para amaciar e aumentar a sua durabilidade. Essas saudosas bolas nos dias de chuva pesavam uma tonelada e se chutadas por um Simplício ou Benício, com certeza você, caro leitor, desmaiaria. Lembro-me de uma bola, novinha, zero cabaço, como chamávamos antigamente, que ganhei no meu aniversário de dez anos e que passou a dormir comigo na cama por vários dias. Que presente. Inesquecível!
Bola drible, de cor branca, número 5, eu via muito no cinema na hora do canal 100 ou nos jogos do profissional do Botafogo Futebol Clube. Segundo me contaram, era o abnegado Heder Henriques quem as trazia do Rio de Janeiro. Pois bem, quando foi agora no dia 1º de maio, realizamos um jogo festivo na belíssima arena de Valdeci Santana, para simbolicamente fazer a despedida do goleiro Fernando. Um dia maravilhoso que já narrei aqui no jornal A União e na Rádio Tabajara. Ocorre que, naquele dia, eu fui surpreendido pelo amigo e ídolo Valdeci Santana, o nosso Ademir da Guia. Ele, com a mesma classe e elegância que deixava Chico Matemático cara a cara com o goleiro, ou quando roubava a bola do adversário sem nenhum contato físico, me chamou em uma sala de sua arena e me deu um presente/relíquia de valor igual ou maior ao que recebi com dez anos de idade e acima citei. Ele não me presenteou uma bola de couro qualquer, ele me deu uma bola drible, especial, de cor branca, oficial CBD, costurada a mão e, pasmem, utilizada na decisão do campeonato paraibano de 1969 que ele recolheu e guardou-a por 53 anos. Sim, 53 anos!
E se não bastasse todas essas informações históricas, a relíquia tem o nome dos atletas campeões – meus eternos ídolos – espalhados por seus gomos, conservados e intactos da mesma forma do seu último jogo. Sinceramente, muita coisa passou pela minha cabeça. Um filme interminável de lembranças e recordações do antigo campo de Pedro Gondim, em Tambauzinho, do campo Olímpico do Boi Só e do charmoso campinho da Graça, palcos onde Valdeci Santana, o maior amigo e companheiro de Nininho nos dava a entender que jogar bola era coisa fácil, tamanha era a sua elegância e intimidade com a bola.
A mim só resta agradecer tal honraria e fazer jus ao presente, zelando-o e guardando-o para a posteridade, mostrando para as novas gerações que um dia a bola de futebol foi branca, de couro, pesada e feito à mão; mas quem a manuseava entendia o seu idioma. Não era à toa que a imprensa paraibana chamava Valdeci Santana de “O príncipe Etíope”.