Demétrius Faustino
No Brasil, a vida parece acontecer – ou, pelo menos, dá a sensação de que acontece – em frente às telas. E isso não é por acaso. Em um país onde estar conectado deixou de ser uma escolha e passou a ser uma necessidade, as pessoas mal conseguem imaginar um dia sem seus smartphones. A ideia de ficar algumas horas sem acesso à internet soa quase como uma tortura, um tipo de isolamento impensável. Sem que notemos, estamos imersos em uma nação onde a nomofobia domina a rotina.
A nomofobia, como o próprio nome sugere, é o medo irracional de ficar sem o celular. Originalmente, o celular foi criado para ser uma ferramenta que facilitasse a comunicação, mas, com o passar do tempo, transformou-se em um vício. No Brasil, essa dependência assume uma dimensão única. Não se trata apenas de um comportamento coletivo, mas de uma verdadeira compulsão. Quem nunca sentiu aquele pânico súbito ao perceber que o celular está sem bateria ou, ainda pior, sem sinal? A sensação de estar desconectado do mundo provoca um desconforto intenso.
Uma pesquisa revela que passamos cerca de 9 horas por dia conectados. Isso, meus amigos, corresponde a quase um terço do nosso dia. Não importa se estamos indo ao trabalho, esperando o ônibus ou tomando aquele cafezinho na esquina, lá estão as pessoas, com os olhos fixos nas suas telas. O Brasil, sempre em busca de estar em sintonia com o restante do mundo, é o país que mais acessa redes sociais, envia mensagens e compartilha memes. Vivemos em um cenário onde a vida é transmitida em tempo real, e qualquer interrupção nesse fluxo é um convite à sensação de “desconexão”, como se a realidade só existisse quando estamos online.
A questão que surge, porém, é: até que ponto essa conexão é saudável? O que acontece quando nos mergulhamos tanto no universo digital que nos esquecemos do que está ao nosso redor? Quando passamos horas trocando mensagens, mas não conseguimos mais olhar nos olhos de alguém e sentir que aquilo é um verdadeiro encontro? O celular, antes uma ferramenta, agora se tornou uma extensão do corpo, uma proteção contra as inseguranças, contra os momentos de silêncio que, de vez em quando, nos assustam.
A tecnologia trouxe avanços incontestáveis. Facilitou a comunicação, aproximou pessoas, fez o Brasil inteiro mais ágil e conectado. Mas será que, ao mesmo tempo, não estamos trocando a qualidade das relações pela quantidade? O Brasil, com seu hábito de estar online 24 horas por dia, está realmente se conectando com as pessoas, ou está apenas se afundando num mar de superficialidades? Quantas vezes nos pegamos rolando o feed, sem nem ao menos perceber o que estamos vendo? Quantas vezes um “like” se tornou mais importante do que um abraço? Quantas vezes um comentário substitui uma conversa verdadeira?
A verdade é que, por mais que nos façam acreditar que estamos conectados, muitas vezes o que estamos fazendo é nos afastando de tudo o que realmente importa. É preciso parar e pensar: essas 9 horas diárias de conexão virtual não estão nos roubando o tempo precioso da vida real? Talvez o Brasil precise, urgentemente, de uma pausa. Talvez a desconexão seja o que precisamos para, finalmente, nos conectar com o que realmente importa.
A nomofobia, esse medo irracional de estar offline, é um reflexo da nossa sociedade moderna, onde a solidão e a ansiedade se disfarçam de conectividade. E o Brasil, como nação, precisa aprender a equilibrar o mundo virtual com o mundo real. Porque, no final das contas, estar online não significa estar vivo, e a melhor conexão que podemos ter não está na tela, mas no olho no olho, na conversa de verdade, na vida como ela é – sem filtros.
João Pessoa, março de 2025.