ENTRE RISOS E ORAÇÃO
Demétrius Faustino
O senso de humor é um verdadeiro certificado de sanidade”, disse certa vez o Papa Francisco. “Há mais de 40 anos, rezo pedindo por esse dom. Peço a São Thomas More, um grande homem, cuja vida nos ensina tanto. Ele, um humanista do Renascimento e autor da ‘Utopia’, foi decapitado por Henrique VIII devido à sua fidelidade à Igreja Católica, e hoje é lembrado como mártir.
O Papa Francisco, com seu jeito simples e acessível, tinha o dom de espalhar bom humor por onde passava. No meio de compromissos pesados, discursos sérios e orações profundas, ele sempre encontrava um espaço para o sorriso, para a piada, para o gesto que aliviava o ambiente e aproximava as pessoas. E o mais impressionante: seu bom humor não era apenas uma questão de risos, mas de uma leveza que contagiava.
Lembramos de um momento durante uma audiência com os fiéis. Entre uma oração e outra, alguém da plateia, provavelmente um pouco nervoso pela ocasião, fazia uma pergunta desajeitada. Ao invés de corrigir com severidade, o Papa simplesmente sorria e dizia: “Ah, mas essa pergunta já me foi feita antes, só que com outras palavras”. A sala se enchia de risos e, no meio daquele cenário tão imponente, todos se sentiram mais próximos, mais humanos. O Papa Francisco, com seu jeito acolhedor, mostrou que a fé também pode ter um toque de leveza.
Seu bom humor ia além das palavras. Era o modo como ele se colocava em situações cotidianas, como se fosse uma pessoa qualquer, e como, ao mesmo tempo, conseguia ser profundo e espiritual. Em suas viagens, sempre havia uma história divertida sobre como ele lidava com imprevistos: seja brincando com os guardas papais, fazendo piadas sobre o próprio Vaticano ou até mesmo rindo de suas próprias gafes, ele não se tornava excessivamente sério. A humildade aliada à alegria se tornava um ponto de equilíbrio entre a grandeza do cargo e a simplicidade de um homem que, ao fim do dia, também era apenas uma pessoa.
Essa leveza trazia algo muito raro hoje em dia: a capacidade de olhar o mundo sem as lentes pesadas do cinismo ou da desesperança. O Papa Francisco, com seu bom humor sincero, nos ensinou a rir das adversidades, a encontrar beleza na vida cotidiana e, quem sabe, a viver com mais serenidade. Em tempos tão tumultuados, ele era como um raio de sol que se põe suavemente no horizonte, lembrando-nos de que, por mais desafiadora que seja a jornada, sempre há um motivo para sorrir.
Fazemos uma pequena pausa para recordar uma observação bem-humorada do Papa Francisco sobre os brasileiros. Em uma de suas falas, ele fez uma piada sobre o famoso gosto do brasileiro por cachaça. De forma descontraída e carinhosa, afirmou que o brasileiro ‘gosta muito de cachaça’, tratando o assunto com leveza e brincadeira, o que, sem dúvida, contribuiu para aproximá-lo ainda mais do povo brasileiro.
Rosto, gestos e palavras de Francisco transpiravam humor. E é isso que ele nos lembra todos os dias: que a alegria também é uma forma de fé.
João Pessoa, abril de 2025.