ENTRE O SOM E A NOSTALGIA
Demétrius Faustino
Era uma vez um tempo em que os discos de vinil dominavam as estantes de muitos lares. Não eram só pedaços de plástico, mas pedaços da alma de uma época, com suas capas coloridas e aquele chiado inconfundível quando a agulha tocava o disco. Aí veio a era digital, e, com ela, o streaming tomou o lugar dos vinis, dos CDs e das fitas cassete. Mas, como todo bom ciclo, a história tem suas voltas.
Nos últimos anos, os vinis começaram a reaparecer nas lojas e nas vitrines, como um herói ressurgido das cinzas, e com eles, veio a nostalgia. Aquele mesmo gosto de algo que não se encontra facilmente no dia a dia, mas que, quando ressurge, mexe com as emoções. A música virou digital, mas o vinil, aparentemente ultrapassado, encontrou seu lugar novamente, especialmente no Brasil, onde as vendas dispararam entre 2020 e 2021, muito embora tenha havido uma queda em 2024.
O vinil não voltou apenas por causa da onda de saudosismo. Quem comprava discos antigamente, sabe: o vinil tem algo que o streaming não tem. Ele exige tempo, paciência, uma certa cerimônia. Colocar o disco na vitrola, ajustar a agulha, esperar o som começar a se espalhar pelo ambiente… É quase como um ritual. E, ao contrário das playlists intermináveis que rolam sem fim, o vinil faz você ouvir o álbum inteiro, do começo ao fim, com uma atenção que, de algum modo, escapa na era do skip.
É claro que há também o apelo estético. As capas grandes e caprichadas, cheias de detalhes, são pequenas obras de arte, que se tornam parte da experiência. Cada disco tem seu charme, e quem coleciona sabe o valor de ter esses itens físicos, palpáveis, que contam histórias além da música. E, para uma geração que nunca viveu esse tempo, o vinil se torna quase um objeto misterioso, algo a ser descoberto, tocado e vivido.
A nostalgia é a chave aqui. Em tempos incertos, olhar para o passado parece oferecer um conforto. E isso vai além do vinil: câmeras analógicas, jogos de tabuleiro, até os filmes em filme. Tudo o que é antigo, mas que oferece uma experiência mais tangível, mais envolvente, surge como uma forma de desacelerar, de se reconectar com algo genuíno.
E não é só o passado que chama. Artistas contemporâneos, atentos a essa nova onda, estão relançando seus álbuns em vinil, com edições especiais e exclusivas. E quem compra não está apenas adquirindo um produto; está comprando uma experiência. Um disco de vinil não é só para ser ouvido, mas para ser vivido, tocado e guardado como um tesouro.
A volta dos vinis não é apenas uma tendência do consumo cultural, mas uma busca por uma experiência mais profunda, algo que o digital não consegue oferecer. Em um mundo onde a música está ao alcance de um clique, nada como um bom vinil para nos lembrar que a beleza está também na forma, no tempo e no prazer de se perder em cada faixa, como se fosse a primeira vez. O passado, afinal, tem muito a nos ensinar.
João Pessoa, fevereiro de 2025.