COMO AS FAKE NEWS TRANSFORMAM O PIX EM INIMIGO
Demétrius Faustino
Era uma vez, em tempos de boletos atrasados e sonhos parcelados em doze vezes sem juros, que chegou o Pix. Um sistema ágil, prático e, ao que parece, feito para salvar os brasileiros das filas de banco e do estresse de transferências eternas. Basta um celular, uma chave cadastrada, e pronto: o dinheiro voa mais rápido do que fofoca em grupo de WhatsApp.
De repente, pagar ou receber virou uma questão de segundos. Já não é necessário esperar o famoso “horário comercial” ou se preocupar com o “Ted ou Doc”. Até aquela pessoa que só aparecia para pedir dinheiro ganhou uma desculpa perfeita para reaparecer: “Me manda um Pix rapidinho?”
Ah, mas como bem diz o ditado, “onde há progresso, há desconfiança”. E não demorou muito para que a sombra da fake news surgisse, infiltrando-se na revolução tecnológica como um vizinho fofoqueiro, sempre pronto a espalhar boatos com segundas intenções.
“Seu Pix está em perigo! O governo vai taxar o Pix!” – ecoam os alertas alarmistas, geralmente acompanhados de uma corrente escrita em caps lock e emojis dramáticos. Em meio ao caos digital, surgem histórias tão absurdas quanto espalhafatosas. Alguns garantem que aceitar uma transferência de R$ 0,01 é o suficiente para ativar uma taxa misteriosa que drenará sua conta bancária. Outros vão além, afirmando que o saldo inteiro desaparecerá num passe de mágica, como se os criminosos fossem mágicos financeiros capazes de operar verdadeiros shows de ilusionismo econômico.
Outra lenda ainda mais conspiratória afirma que, ao cadastrar uma chave Pix utilizando o CPF, você estaria entregando sua alma digital a uma rede secreta de espionagem internacional. “Eles sabem de tudo agora!” ecoa o áudio grave e misterioso, enviado por um “especialista” que, com uma voz carregada de urgência, transmite um alerta alarmante. Curiosamente, esse “especialista” também sugere que você invista em pirâmides financeiras disfarçadas de oportunidades irresistíveis, como se fosse a chave para resolver todos os seus problemas econômicos.
E foi assim que a paranoia se espalhou. Havia quem desinstalasse o app do banco, quem conferisse o saldo dez vezes ao dia e até quem guardasse o dinheiro no colchão, como nos tempos em que avós desconfiavam de cartões de débito.
Enquanto isso, o Pix segue firme, funcionando sem erros, enquanto o verdadeiro problema é a falta de educação digital. Os golpes reais não vem do sistema, mas de mensagens persuasivas e links duvidosos.
No fim, a fake news do Pix nos mostrou mais do que o poder da mentira: revelou o quão vulneráveis somos quando o medo encontra a ignorância. E, ironicamente, as mesmas pessoas que desconfiam do sistema gratuito e seguro muitas vezes caem em promessas de “ganhe R$ 10.000 agora!” com um clique.
Moral da história? Antes de acreditar no próximo áudio alarmante ou corrente desesperada, lembre-se: desconfiar é bom, mas desconfiar com conhecimento é melhor. Afinal, nem tudo o que circula por aí é verdade – nem no Pix, nem na vida.
João Pessoa, janeiro de 2025.