UM NATAL NO CORAÇÃO DE JOÃO PESSOA
Demétrius Faustino
É Natal, e o contraste entre o burburinho urbano e o espírito natalino preenche o ar. As luzes e decorações que adornam as ruas e a Lagoa do Parque Sólon de Lucena trazem um toque de magia, amenizando a dureza do progresso acelerado e da especulação imobiliária. Ali, é possível sentir o Natal pulsando na memória da cidade, nos detalhes que resistem ao tempo, no calor humano que ainda teima em se manifestar, mesmo em meio à correria.
A Lagoa, iluminada como um presépio contemporâneo, é o coração dessa celebração. Famílias se reúnem, tiram fotos, sorriem. Crianças correm descalças, encantadas com o brilho das luzes que refletem na água. Ali, entre as árvores enfeitadas, a cidade parece pausar, como se quisesse respirar fundo e lembrar de sua própria história. Uma história de tradições e encontros, de uma simplicidade que insiste em sobreviver ao peso do tempo.
No centro da cidade, o movimento frenético contrasta com pequenas cenas que evocam a essência do Natal. Um senhor de barba branca, sentado em um banco, observa o vai e vem das pessoas com um sorriso sereno, como se guardasse segredos de tempos passados. Uma senhora oferece bolos e doces caseiros, cuidadosamente embalados, enquanto canta baixinho uma canção de ninar que lembra antigas ladainhas. É um cenário que mistura o passado e o presente: profissionais liberais, funcionários públicos e populares que correm entre as exigências modernas, enquanto meu olhar busca os resquícios de um tempo romântico e simples da adolescência.
Vi e revivi cenas de outrora, aquelas em que o centro da cidade era palco de encontros, de sonhos e de passeios impregnados de história e emoção. Lembrei-me de como, na minha adolescência, as ruas ganhavam um brilho especial nessa época do ano. As vitrines das lojas, decoradas com cuidado artesanal, pareciam pequenas galerias de arte, onde cada detalhe contava uma história. Havia um encantamento genuíno, algo que transcendia o material e tocava diretamente o coração.
Uma cena chamou minha atenção: um menino, com os olhos brilhando de expectativa, observava uma vitrine decorada. Ele apertava as mãos da mãe, enquanto apontava para um brinquedo que talvez nunca fosse seu. Havia algo de comovente naquela esperança infantil, algo que me transportou de volta à minha própria infância. Lembrei-me dos Natais passados, em que a esperança e a simplicidade também tornavam tudo mais mágico. Era como se a cidade, com todas as suas contradições, me presenteasse com momentos que, apesar de efêmeros, carregavam uma profundidade que palavras mal poderiam descrever.
Ao caminhar pelas ruas, fui tomado por um misto de melancolia e gratidão. Melancolia pelo que se perdeu, pelos rostos e lugares que ficaram apenas na memória. Gratidão pelo que ainda resiste, pelos pequenos gestos e cenas que ainda conseguem capturar a essência do Natal. É como se o espírito natalino estivesse sempre presente, esperando apenas um instante de atenção para se revelar.
Nessa minha visita ao anel da Lagoa, ao olhar para o céu iluminado pelas luzes da cidade, senti que o Natal, mais do que uma data, é um estado de espírito. Um convite à reflexão, à memória e, acima de tudo, à esperança. No coração de João Pessoa, entre a tradição e a modernidade, o Natal continua vivo, pulsando em cada olhar, em cada sorriso, em cada gesto de carinho. E é nesse pulsar que encontramos o verdadeiro significado da data: a capacidade de acreditar, sonhar e compartilhar.
Quero parabenizar o prefeito Cícero Lucena e o vice Léo Bezerra pela belíssima iluminação natalina de João Pessoa, que não apenas embeleza nossa cidade, mas também aquece nossos corações com o espírito de Natal.
João Pessoa, 25 de dezembro de 2024.