Novo artigo de Demétrius Faustino: “Calor Assassino”

CALOR ASSASSINO

Demétrius Faustino

Meu nome não é Gal e nem desejo me corresponder com um rapaz que seja o tal. Meu nome é calor, cuja vítima mais recente desse estresse térmico que carrego atualmente, é Ana Clara Benevides que morreu após passar mal em meio a uma multidão que aguardava o show da cantora Taylor Swift, no Rio de Janeiro.
Muito embora o frio mate 20 vezes mais que o calor, conforme revelado em estudo, as mudanças climáticas fizeram do nosso planeta um mundo terrestre mais quente. A quantidade de calor do planeta está aumentando em decorrência das atividades humanas, e as mudanças climáticas ameaçam todos os aspectos da nossa vida na Terra.
A temperatura excessiva já levou mais de 61 mil pessoas na Europa no verão passado. O estresse térmico só tem aumentado e não há dúvida de que é a ação do homem que causa nociva emissão de gases causadores do efeito estufa.
Dizem que quem sai de São Paulo pelas inúmeras estradas que cortam o Estado, visualiza todas as bordas do que restou de propriedade rural queimadas. São as bitucas lançadas ao Deus dará. Ou seja, a negligência humana arde em chamas.
A Amazônia, além de ocupada pela criminalidade cada vez mais bem organizada e requintada, ainda continua queimando em chamas, e esse aumento de fogaréu coincide com a seca dos rios e a elevação espetacular da temperatura, sinal de que a mudança climática resolveu castigar a humanidade perversa.
A China chegou a registrar em julho temperaturas superiores a 50 graus centígrados e nos Estados Unidos a cidade de Phoenix chegou a 43.
O calor excessivo faz o coração bombear mais sangue e faz a quentura se transformar em suor. E por óbvio, batimentos cardíacos mais rápidos exigem mais oxigênio. O suor, por sua vez, desidrata e causa problemas renais.
Sem olvidar do fenômeno da insolação, onde o corpo não consegue superar o calor e isso causa incapacidade de pensar ou raciocinar de maneira focada e clara, perda de consciência e convulsões.
Já os idosos têm, por natureza, dificuldade de regular a temperatura corporal interna. Por isso é que a mortalidade entre os maiores de 65 anos aumentou 68 nos últimos anos, de acordo com o relatório anual Lancet Countdown de 2022.
A presença de árvores faz diminuir a sensação de calor. Entretanto, o plantio está ainda muito reduzido, anda à velocidade dos representantes dos quelônios, enquanto a derrubada de árvores saudáveis, para atender à aspiração e ambição humana, ainda caminha comprometendo o equilíbrio do meio ambiente.
Lamentavelmente, o governo que passou, só tinha em mente, e exclusivamente, dois temas: eleição e reeleição e a obtenção de vantagens, não dando muita bola ao desmatamento que é um dos mais graves problemas ambientais do nosso tempo, quando na verdade, deveria ser obrigado a cumprir, com esmero, o Artigo 225 da nossa Constituição Federal, onde estabelece que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
Sem isso, o assassino silencioso vai continuar crescentemente mortífero.
E não venham dizer que a influência do El Niño é o principal fator para as ondas de calor vistas atualmente. Pelo contrário, são resultado das mudanças climáticas causadas pela humanidade.
João Pessoa, novembro de 2023.