O Ano que já vai tarde. Novo artigo de Demétrius Faustino

O ANO QUE JÁ VAI TARDE

Demétrius Faustino

O ano que agora termina não foi um ano feliz, e, diga-se de passagem, na prolongada história dos calendários, poucos anos, pelo menos nas últimas décadas, foi tão complicado, desprovido de percepção, entendimento ou clareza quanto este.
Neste ano as notícias ruins se sucederam como memória flash, com mais de um milhão e seiscentos mil mortos ao redor do planeta, vítimas da pandemia do coronavírus.
E mesmo com as pessoas de bom senso se afastando de seus familiares e amigos para preservá-los e se preservar, não houve como conter o avanço dessa peste, pois os insensatos se aglomeraram e alimentaram esse monstro.
Esses insensatos não seguiram o exemplo de Papai Noel que ficou circunscrito na Lapônia, usando o delivery para entregar presentes e limitar o contato com os baixinhos.
É fato que todo mundo se cansou da pandemia e resolveu sair da sua bolha, mas esse pesadelo ainda não acaba em 2020, ainda mais com a desmotivação da população em seguir as medidas recomendadas de proteção de si mesmos e de outros contra o novo coronavírus.
É bem verdade que as vacinas foram desenvolvidas em tempo recorde. Contudo, a má notícia é que entre desenvolver e validar uma vacina e imunizar a população vai um espaço descomunal, demarcando a capacidade de ação dos governos.
Se bem que no caso brasileiro, a abnegação do Governo Federal no combate à pandemia exacerbou ainda mais o quadro, porquanto não é necessário ter olhos de lince para perceber a falta de coordenação do Ministério da Saúde, que desordenou o atendimento e está demorando em vacinar. O governo fala, promete, mas o executar, o tirar do papel, que é bom, ainda não aconteceu.
Nessa marcha, não temos condições de vacinar a população em quantidades significativas, antes do segundo semestre de 2021, pois não teremos vacina suficiente para os duzentos milhões de brasileiros serem imunizados.
Sem olvidar que em 2020, além da pandemia, outros acontecimentos ruins vieram à tona no Brasil: rios ressequiram, deixamos queimar nossas florestas, e continuamos a não poder saber quem mandou matar Marielle.
Mas o pior é que mesmo com a saída de cena de 2020, jamais conseguiremos apagar das nossas memórias os quase 200 mil mortos que se disseminam pelos meses desse ano cruel, cujo logotipo é a imagem da humanidade inteira usando máscara.
Difícil achar um motivo que seja para ter saudade do mais desgraçado dos anos.
João Pessoa, 31 de dezembro de 2020.